O reconhecimento de uma nova espécie de lagarto na região do Vale do Jaguaribe, sertão cearense, chama a atenção para a biodiversidade ainda pouco pesquisada da Caatinga
Em um município a mais de 200 quilômetros de Fortaleza, localizado no Baixo Jaguaribe, pesquisadores do Núcleo Regional de Ofiologia (Nurof) da Universidade Federal do Ceará (UFC) descobriram o, agora chamado, Tropidurus jaguaribanus, nova espécie de lagarto do grupo dos calangos-de-lajeiro, comuns em todo o Ceará, assim como em outras partes do Nordeste.
Para os olhos menos acostumados, a diferença entre os lagartos do grupo pode não ser notada na primeira vez. Mas, para os que lidam com eles há muito tempo, ela está clara. A principal característica diferenciadora é a presença de apenas uma listra, que vai do focinho até a área das patas dianteiras.
Nas outras espécies, a listra segue até a base da cauda ou existem mais listras. Quando os indivíduos da espécie Tropidurus jaguaribanus se tornam adultos, a listra pode desaparecer, característica que também os difere dos restantes. Além da listra, a nova espécie é a maior do grupo, com uma média de 27 centímetros.
Segundo o biólogo Daniel Passos, por enquanto, só se tem a descrição da espécie e a distribuição em alguns municípios da região, como Tabuleiro do Norte.
“A gente tem hipóteses do que ele come, porque é do mesmo gênero de outros lagartos; então, a gente espera que ele possua hábitos e tenha predadores semelhantes”, comentou Daniel Passos. A alimentação, geralmente, é baseada em invertebrados, como baratas, grilos, traças, formigas, vespas e abelhas.
Os pesquisadores indicam que o passo seguinte é descobrir como a espécie reage com os outros seres e com o ambiente.
Novas espécies
Segundo informações do livro Rumo ao amplo conhecimento da biodiversidade do semi-árido brasileiro, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) o número de espécies descritas no mundo em mais de dois séculos de estudos taxonômicos chega a 1,5 milhão. Mesmo assim, ainda não é possível precisar quantas espécies ainda restam ser descobertas e as estimativas possuem uma lacuna considerável: de 3 a 30 milhões. E é justamente nos trópicos que essa lacuna de conhecimento se apresenta de maneira mais alarmante.
E o alarme se dá pelo fato de a extinção chegar mais rápido às espécies do que o conhecimento dos pesquisadores. Por isso, há a defesa para que os estudos que envolvem a taxonomia (a classificação das espécies) tenham mais investimento.
Entretanto, como ressalta o livro do MCT, há uma desvalorização da taxonomia nos últimos anos. “Os investimentos nessa linha de pesquisa vêm caindo vertiginosamente e o número de taxonomistas tem diminuído no mundo todo”, indica um trecho da publicação.
Trazendo essa realidade para solos cearenses, o último lagarto descrito no Estado foi o Leposoma baturitenses, em 1998, localizado no Maciço de Baturité.
Daniel Passos comentou que, “se o estudo continuar e verificar outras áreas, a tendência é que encontremos mais espécies”. Mas é necessário que investimentos sejam feitos, uma vez que a pesquisa que resultou nessa descoberta não teve financiamento.
O Ciência & Saúde entra nos caminhos da pesquisa científica que descreve uma nova espécie e enfatiza a importância do desenvolvimento de projetos de pesquisa no semiárido brasileiro.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Um artigo de 2003 estimava o número de lagartos para a caatinga em 47 espécies. Com lacunas em muitas áreas da região, ainda é impossível de precisar o número exato. Que o digam os indivíduos pertencentes à espécie do Tropidurus jaguaribanus, até então desconhecida para os pesquisadores.
Características da espécie
A listra que vai até os braços é o diferencial da espécie.
A média de tamanho é de 27 centímetros.
Há a indicação de que se alimentem de insetos assim como as outras espécies do grupo.
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