Escola de floricultura gera oportunidades para moradores de São Benedito. Mulher tem casa reformada e emprego garantido por empresa de flores.
Café com Rosas. O nome até poético deste café contrasta com o lugar em que ele fica: um posto de gasolina. Foi o aumento no movimento do posto, porém, que fez o dono investir em um café bem arrumado, um dos poucos pontos de venda das rosas produzidas na cidade.
“Eu acredito que as pessoas que trabalham hoje nas empresas de rosas passaram a consumir em todas as empresas. Não só na minha, especificamente, mas em toda a cidade”, afirma George Antônio Pimenta Brito, dono do posto e do café.
A cidade, aos poucos, está mudando. Acompanhamos uma aula da escola de floricultura de São Benedito, que foi construída em um terreno doado por uma empresa produtora de rosas e é mantida pelo governo do estado do Ceará. Aberta há cinco anos, ainda tem poucos alunos, mas já aponta um caminho para alguns jovens da cidade.
O curso dura quatro meses. Depois, os alunos passam por um estágio prático, como conta a engenheira agrônoma e professora Patrícia Moreira. “Dependendo do desempenho deles na empresa, eles fazem uma entrevista e são absorvidos por essa empresa”, explica.
Hélio Marques estava desempregado quando começou o curso. Confessa que, no início, foi às aulas empurrado por um amigo, mas acabou gostando e hoje trabalha na produção de rosas. Hélio é um dos 250 funcionários de outra fábrica de rosas, a Reijers.
São 33 mil metros quadrados de rosas em uma única estufa. A Reijers foi a segunda empresa a se instalar na região e hoje é a primeira em produção, com capacidade para colher 110 mil rosas por dia. São, ao todo, 24 estufas, somando 24 hectares plantados. O resultado da colheita pode seguir sobre rodas ou pendurado, e a classificação das rosas parece linha de montagem.
O cultivo é em vasos, em um sistema semi-hidropônico, sem solo, apenas com fibra de coco. O excesso de fertilizante cai em um plástico, vai para uma tubulação e volta para os vasos, evitando o desperdício. De olho em uma certificação internacional, a empresa investe em tratamentos alternativos para pragas e doenças. Em uma garrafa, há repelentes de insetos. Quando há lagartas comendo as folhas das roseiras, são colocados adesivos cheios de ovos de vespa, predadora natural da lagarta. E ao lado, tem feijão-de-porco, que funciona como criatório de um ácaro predador do ácaro rajado.
O ácaro rajado deixa as folhas da roseira amareladas, e derruba a produção em 30 a 40%. São os dois tipos de ácaros. A tela vermelha reduz a luminosidade e a temperatura nas estufas em quatro a cinco graus. A umidade fica mais alta e evita as principais pragas que gostam de clima seco.
O cultivo de rosas é mesmo cheio de detalhes, mas, quando chegou aqui, Roberto Reijers, dono da empresa, tinha experiência. De família holandesa, já cultivava rosas em São Paulo e Minas Gerais, e logo viu potencial na região. “Lá no sul, em São Paulo, Minas Gerais, temos um período de inverno, de geadas, que afetava nossa produção em uma época que precisava de flores, porque tinha datas festivas como Dia das Mães e dos Namorados, e a gente não tinha flores por causa da geada. Como aqui não tem nada desses problemas, vi uma oportunidade pra poder produzir o ano todo”, diz Reijers.
“Iniciamos um projeto agora de uma ampliação, de colocar mais 12 hectares, em virtude da demanda. Por isso, já vamos fazer uns passos mais largos agora”, conclui o dono da empresa.
Passos largos e voos mais altos. No aeroporto de Fortaleza, a esteira leva as caixas de rosas vindas de São Benedito para dentro do avião. Elas vão para estados do Norte e Nordeste do Brasil. O mercado interno é o maior consumidor, mas a empresa também exporta parte da produção.
“Exportamos durante seis meses no ano para Amsterdam. A gente tem uma concorrência muito grande com o mercado da África, Quênia e África do Sul, onde os preços são bem melhores que os nossos”, diz Luciano Passos, coordenador geral do grupo Reijers em Fortaleza.
As rosas vão enfeitar casas europeias e brasileiras, mas deixam no Ceará uma riqueza que tem modificado muitas vidas, como as daqueles que vivem das rosas. Maria, que, mesmo ao final do dia chuvoso de trabalho, vai de bicicleta pra casa, onde mora com os quatro filhos: Felipe, de 16 anos, Carla, de 12, Ivone, de 13, e Edson, de nove anos. Há algum tempo, o marido abandonou a família e Maria passou a trabalhar como doméstica pra manter a casa.
Quando a mãe pensou em deixar os filhos em busca de emprego fora da cidade, Felipe teve uma ideia. Foi falar com Roberto, o dono da empresa de rosas onde a tia dele já trabalhava. Maria não conseguiu só o emprego. Sabendo dos problemas de saúde da filha mais nova que tinha crises de asma, Bárbara Oliveira, técnica em segurança do trabalho da empresa de rosas, foi visitar a casa da família, e solicitou a reconstrução da casa de Maria, tomada por cupins.
Foi construída uma casa nova, mobiliada, entregue com festa. Tudo pago pela empresa de rosas. Flor não é mesmo alimento, mas, na serra da Ibiapaba, garante a comida na mesa de muitos cearenses.
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